Diversas plantas com propriedades alucinógenas têm sido utilizadas com finalidades místicas desde as antigas civilizações, apresentando um papel importante em ritos religiosos, pois, a explicação para os efeitos dessas plantas do transporte da mente humana a regiões etéreas ainda hoje é atribuída ao autoconhecimento, aos contatos com o mundo espiritual, divindades e outras forças. No Brasil, verifica-se que no ritual de seitas como na União do Vegetal (UDV) e no Santo Daime, o uso de plantas é bastante difundido e culturalmente aceito, até porque por serem fundamentadas em direito constitucional de liberdade de culto e religião, não há restrições para essas seitas quanto ao uso de plantas sob o aspecto forense, além de que nada consta na "Lei 6368/76 - Lei de entorpecentes" sobre os componentes das plantas utilizadas.
A seita religiosa do Santo Daime faz utilização de um chá preparado a partir da planta Bannisteriopsis caapi, uma parreira ou cipó gigante da família Malpighiaceae, nativa das zonas tropicais, na América do Sul e Antilhas, também conhecida como Ayahuasca, Yajé, Dapa, Miki, Natema, Kahi ou Oasca, em associação com outra planta, a Psychotria viridis, da família Rubiaceae. A B. caapi apresenta alcalóides que são potentes inibidores da enzima monoaminoxidase (MAO) como a harmina (telepatina). Enquanto que na P. viridis há derivados indólicos, principalmente o DMT (N,N-dimetiltriptamina), que age sobre os receptores da serotonina.
A mistura das duas plantas potencializa a ação das substâncias ativas, pois o DMT é oxidado pela MAO, a qual está inibida pela harmina, acarretando um aumento nos níveis de serotonina, causando impulsão motora para o sistema límbico no sentido de aumentar a sensação de bem-estar do indivíduo, criando condições de felicidade, contentamento, bom apetite, impulso sexual, equilíbrio psicomotor e alucinações.
Os efeitos tóxicos, embora sejam subestimados pelos praticantes da seita e, assim, atribuídos ao processo de purificação da alma são caracterizados por vertigens, náuseas, vômitos intensos, diarréias, palpitação, taquicardia, tremores, midríase, euforia e excitação agressiva. Dentre os principais efeitos alucinógenos tem-se as alucinações visuais de animais, a comunicação com divindades ou demônios, o vôo pelos ares a lugares distantes, denominados pela seita de “mirações”. Isso cria um impasse no que diz respeito ao risco de intoxicação a que estão sujeitos os seguidores dessas seitas.
De acordo com alguns depoimentos de seguidores da seita, os efeitos manifestados são controlados e interrompidos quando necessário. Mesmo nos relatos indígenas, sair do corpo ou adotar outra forma (como, por exemplo, tornar-se uma águia, serpente ou outra pessoa) são efeitos freqüentemente relatados.
Embora a bebida tenha sido proibida no Brasil no ano de 1985, liberada dois anos depois e tenha ocorrido nova tentativa de proibição nos anos 1990, em janeiro de 2010 o governo brasileiro formalizou legalmente o uso religioso do chá ayahuasca, vetando o comércio e propagandas do mesmo, o qual só pode ser utilizado com fins religiosos e não lucrativos, com a criação de um cadastro facultativo para as entidades que o utilizam.
Nos últimos anos, várias discussões sobre a permissão de substâncias alucinógenas, ou mistura de substâncias, em seitas religiosas, tem sido realizadas por profissionais de diversas áreas, pois, vem ocorrendo um aumento do número de adeptos desta seita que turvam sua finalidade ritual, visando apenas o consumo inadequado e abusivo das substâncias alucinógenas. Devido a isso, ainda é necessário o desenvolvimento de estudos referentes à avaliação do potencial tóxico dessas substâncias, considerando, principalmente, a indução de tolerância, a síndrome de abstinência ou o desejo compulsivo, além da questão do desencadeamento de reações adversas quando combinadas com medicações como os inibidores específicos da recaptação de serotonina, podendo levar ao desenvolvimento da síndrome serotoninérgica, e do fato de que, apesar da existência de extensa literatura sobre o assunto, ainda permanece o mistério sobre o porquê essas substâncias, diferentemente de outras que trazem prejuízos à saúde e ao convívio em sociedade, segundo depoimentos de adeptos da seita colaboram para uma melhoria desses aspectos.
REFERÊNCIAS
IMAGENS ALTERADAS DE: http://obsfarma.files.wordpress.com/2010/03/ayahuasca.gif